segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Amor por retalhos





Em meio ao milharal eles se encaravam com os olhos cheio de cores de botões e, no primeiro sopro do ar, o vento mistura as suas almas de palhas. Suas bocas com linhas foram costuradas e então não podiam entoar o espanto do amor. Castigados ao não falar com palavras, comunicavam-se por meio da linguagem dos retalhos de pano. Sonhos emendados. Buquês cortados. Corações retalhados.
Enquanto o sol refletia na palha do chapéu da criança, a lua brincava pelas tranças da boneca de milho. Ah! Como eles desejavam se libertar daquela cruz que abocava seus corpos para dançar pelas ruas do milharal. Se ao menos aqueles corvos lhe levassem pelos céus ao encontro da bruxa que lhes restituísse a vida.
É triste o fado daqueles dois espantalhos que se amam sem poder se beijar, sem poder se abraçar, sem poder se tocar. Não possuem pés para irem ao encontro, tampouco mãos para se agarrarem. De tanto desejo, temiam, que a qualquer momento pudessem ser consumidos pelo fogo. Se ao menos ao contrário de espantalhos, aquelas palhas preenchessem um colchão de casal...