Em meio ao milharal eles se encaravam com os olhos cheio de
cores de botões e, no primeiro sopro do ar, o vento mistura as suas almas de
palhas. Suas bocas com linhas foram costuradas e então não podiam entoar o
espanto do amor. Castigados ao não falar com palavras, comunicavam-se por meio
da linguagem dos retalhos de pano. Sonhos emendados. Buquês cortados. Corações
retalhados.
Enquanto o sol refletia na palha do chapéu da criança, a lua
brincava pelas tranças da boneca de milho. Ah! Como eles desejavam se libertar
daquela cruz que abocava seus corpos para dançar pelas ruas do milharal. Se ao
menos aqueles corvos lhe levassem pelos céus ao encontro da bruxa que lhes restituísse
a vida.
É triste o fado daqueles dois espantalhos que se amam sem
poder se beijar, sem poder se abraçar, sem poder se tocar. Não possuem pés para
irem ao encontro, tampouco mãos para se agarrarem. De tanto desejo, temiam, que
a qualquer momento pudessem ser consumidos pelo fogo. Se ao menos ao contrário
de espantalhos, aquelas palhas preenchessem um colchão de casal...